Na última sexta-feira (15), dirigentes sindicais e empregados do Banco do Brasil no Rio Grande do Sul defenderam em plenária estadual da Fetrafi/RS a mobilização da categoria para denunciar os efeitos da reestruturação do banco. De acordo com os participantes, o modelo anunciado ameaça a função social do banco público colocando em risco o atendimento da população, principalmente, a população mais vulnerável em cidades do interior e periferias. Sob o argumento de digitalização, o banco promove a “elitização”, acusam.

Entenda

No dia 11/01, em comunicação dirigida ao mercado financeiro e sem qualquer aviso às entidades representativas dos funcionários, o banco anunciou que vai demitir cinco mil trabalhadores e trabalhadoras, por meio de dois programas de demissão voluntária, o Programa de Adequação de Quadros (PAQ) e o Programa de Desligamento Extraordinário (PDE). Além disso, o BB vai fechar 361 unidades em todo o país: 112 agências, 242 postos de atendimento (PA) e sete escritórios, e ainda extinguir a função de caixa executivo.

O banco alega que a estratégia é fortalecer o atendimento digital, o que foi acelerado com a pandemia. As medidas envolvem ao todo 870 unidades pelo país. Além do encerramento de unidades, 243 agências serão transformadas em postos de atendimento (que não têm gerente) e outras 145 unidades de negócios, em lojas que não possuem guichês de caixas, apenas terminais de atendimento.

Falta informação

Bianca Garbelini, representante da Fetrafi/RS na Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), informou que mesmo após reunião e reiterados pedidos da CEBB, o banco ainda não detalhou as etapas do processo e “se recusou a fornecer os dados por estado”.

Bianca antecipou que “aqui no RS estamos entrando com denúncia no Ministério Público do Trabalho para saber quantas agências vão fechar, quais, quantas viram postos de atendimento e quantas pessoas perdem função de caixa”. A Fetrafi está levantando informações que chegam dos sindicatos da base. “Cerca de 12 agências serão fechadas no estado, mas não são dados oficias”, reforçou Bianca. “O mais grave”, aponta, “é a diminuição do Banco do Brasil enquanto agente público do desenvolvimento no interior. Essa reestruturação vem para aprofundar esse processo de digitalização e negar atendimento às populações mais vulneráveis”.

Claro desmonte

O coordenador da CEBB, João Fukunaga, frisou que essa reestruturação é mais uma etapa do processo de desmonte do banco e que o fechamento de agências no interior tem enorme impacto em setores fundamentais para o desenvolvimento do país, como por exemplo, a agricultura familiar. Há municípios onde a única agência bancária é do Banco do Brasil. E, ao longo do tempo, o BB tem sido o principal operador do Pronaf, crédito rural específico para os agricultores familiares. A digitalização completa dificulta o acesso deste público ao crédito, importante instrumento de desenvolvimento rural, uma vez que 21% da população rural não tem acesso à internet banda larga.

“Está muito claro que é um processo de desmonte e elitização do banco. Retira o banco das cidades pequenas e da periferia, isola o atendimento da população carente, alega que é uma questão tecnológica, mas o que a gente vê na agência são filas. A tecnologia sozinha não resolve”, defendeu.

Fukunaga também colocou como preocupação a total falta de informação sobre o mapa real da reestruturação e como isso cria instabilidade na vida dos colegas. “Quando a gente pergunta qual o mapa da reestruturação, em relação às vagas perdidas e as criadas, o banco não tem noção e diz que precisa esperar o número de pessoas que vão sair com o PDE”, disse.

“Mas, o PDE tem uma perversidade”, destacou Fukunaga. “Um gerente geral não pode pedir o descomissionamento para virar escriturário e pedir o PDE. Em compensação, o gerente dessas 361 unidades são elegíveis para sair. Então, o banco foca nas pessoas que já estão perdendo a comissão por conta da reestruturação”. O mapa, então, só virá com a saída forçada dessas pessoas, atentou. “Forçada por conta da ameaça de remoção compulsória. Já vi vários casos entre meus colegas. A sensação geral é de terra arrasada”. Na prática, a reestruturação reduz as funções existentes e para manter a mesma função, só resta ao bancário trocar de cidade ou regredir na carreira.

Mobilização

“Estamos alertando os colegas da real necessidade de se mobilizar”. Segundo, Fukunaga, as entidades estão criando estratégias para que mais colegas entendam a gravidade da situação e também entrem na mobilização, como os 35 mil bancários que estão em home office, ou seja, um terço da categoria.

Na plenária, os bancários foram unânimes sobre a necessidade de reforçar ações de mobilização para denunciar, inclusive, o impacto da reestruturação no atendimento, alertando a sociedade. A movimentação já começou nas agências com abordagem nos clientes que esperam nas filas, o que gerou, em São Paulo, por exemplo, notícias na grande mídia e repercussão no resto do país. A movimentação continuará em todos os estados e na próxima terça-feira (19), a CEBB marcou reunião para definir os próximos passos, com indicativo do dia 21 de janeiro para realizar uma mobilização nacional.

A ideia geral é acionar parlamentares e o judiciário para reforçar a importância social do Banco Brasil público, com ações que gerem atenção da mídia e reflexos na sociedade.

A diretora da Fetrafi/RS, Cristiana Garbinatto, destacou que a reestruturação se trata de “uma política de terceirização e precarização do trabalho” e que é precisamos combater essa ideia geral que chega no Banco do Brasil agora, mas já atingiu a Caixa, o Banrisul e bancos privados. “O discurso da digitalização diz que as pessoas não precisam do banco. Mas as lotéricas estão lotadas. Nosso trabalho de caixa está sendo deslocado para terceirização e precarização. Precisamos lutar contra essa estrutura de precarização”. Outro ponto, alertou Cristiana, é “a economia ridícula” de R$ 353 milhões, em 2021, perto do retorno que essas agências trazem para o banco. A diretora da Fetrafi-RS apontou como exemplo a expansão das agências do Sicredi pelo estado do Rio Grande do Sul para atender justamente a operação da agricultura familiar, que movimenta anualmente no país R$ 107 bilhões. “Estamos saindo desse mercado por livre e espontânea vontade ou isso não parece uma entrega?”, questionou, lembrando que “quando a gente entrega o Banco do Brasil a gente também perde a Cassi (plano de saúde) e a Previ (aposentadoria do banco)”.

A plenária terminou com um panelaço virtual contra a reestruturação e em protesto à crise em Manaus.

Confira a íntegra da plenária.

Fonte: Portal Bancários RS
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