Diretora da Mulher Trabalhadora da Fetrafi-RS conta que o machismo é comum na carreira bancária

As mulheres sempre receberam salários menores que os homens, mesmo em cargos idênticos. E hoje, essa realidade continua, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) referentes ao 4º trimestre de 2019. No período, o rendimento mensal médio das mulheres brasileiras foi 22% menor que o do homem. No mesmo cargo (de diretoria e gerência), a diferença aumenta para 29%.

As bancárias e o mundo do trabalho

De acordo com a diretora da Mulher Trabalhadora da Fetrafi-RS, Cristiana Garbinatto, o acesso das mulheres aos bancos privados está muito atrelado à aparência física. É preciso seguir um certo padrão de beleza, imposto pela sociedade. “Temos essa questão machista, que é a de ter a mulher na ‘vitrine’ do banco: bonita, bem arrumada, maquiada, que chame a atenção. Porque é feita uma análise não só do currículo, mas da aparência da mulher, se ela vai ‘agradar ao público’, antes da contratação”, diz.

Assédio

Outra questão que é comum às mulheres trabalhadoras é o assédio moral e sexual. Recentemente um gerente executivo da Cassi teve sua demissão solicitada após um longo processo na Ouvidoria da Instituição, motivado por inúmeras denúncias. “As colegas não podiam usar decote que ele ficava olhando, ele ligava para a casa delas, quando estavam com a família, para dizer que queria companhia porque estava solitário, entre outras coisas”, conta Cristiana.

Carreira bancária

A ascensão dentro da carreira é outra barreira a ser enfrentada pelas mulheres e bastante difícil para as bancárias. “Nós temos vários casos em todos os bancos em que as mulheres chegam apenas até a gerência médica. Dali pra frente é um trabalho muito árduo. Temos dificuldade de ascender para administradoras de agências, superintendentes. Para diretoria, então, o número é reduzidíssimo”, afirma a funcionária do Banco do Brasil.

Para dar um exemplo, no BB, apenas uma entre seis superintendentes no estado do Rio Grande do Sul é mulher. “Nunca tivemos uma superintendente estadual mulher e ter uma diretora no Banco, é algo que está muito distante da realidade”, frisa.

Um dos fatores que leva a essa dificuldade é o preconceito. Conforme estudo internacional feito pela consultoria Kantar e divulgado pela Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb), apenas 41% dos brasileiros e brasileiras se sentem confortáveis com uma mulher na posição de liderança em uma grande empresa. “Tivemos momentos em que a essa questão melhorou, quando tivemos políticas inclusivas para mulheres nos processos seletivos. Mesmo assim, não conseguimos chegar nem perto da equidade. Hoje, retrocedemos e é muito difícil quebrar essa barreira, pois a escolha para os cargos mais altos ainda está nas mãos dos homens”, destaca a diretora da Fetrafi-RS.

Quanto à diferença salarial, Cristiana explica que nos bancos públicos, onde o acesso é via concurso, há uma certa equivalência entre homens e mulheres, mas nos privados, a disparidade é evidente. Uma das justificativas dos patrões para pagar menos para as mulheres é o fato de a mulher engravidar e ter que se ausentar por seis meses em licença maternidade.

“Não há avanços nesse sentido. Ao contrário. Muitos casos que acompanhei eram de mulheres que foram preteridas em processos seletivos porque pretendiam engravidar. Isso é um absurdo!”, ressalta Cristiana. “Essa questão só se resolveria com a ampliação da licença paternidade, pois a mãe poderia sair por seis meses e o pai por mais seis, garantindo o direito da criança. Dentro da categoria não temos conhecimento de demissões após o retorno da licença, porque há pressão dos sindicatos, que estão atentos a isso. Com as terceirizadas, porém, acontece direto”, conclui.

 

Fonte: Fetrafi-RS

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