Trabalho aos sábados não resolve situação e ainda expõe empregados do banco público e população que busca o auxílio emergencial a mais risco de adoecimento
A incompetência do governo Bolsonaro em operacionalizar de forma eficaz o pagamento do auxílio emergencial aos mais de 45 milhões de brasileiros que necessitam do benefício transformou trabalhadores bancários em heróis. E isso não está certo. Os pouco mais de 84 mil empregados da Caixa Econômica Federal são os únicos trabalhadores, de todo o sistema financeiro nacional, responsáveis pelo pagamento dos R$ 600 que esses cidadãos precisam para sobreviver. E mais 8,4 milhões vão se somar ao contingente com direito de receber o auxílio emergencial.
Caixa volta a ser instrumento de Estado no combate a crise
“Os empregados da Caixa são heróis que estão atendendo milhões de pessoas diariamente. Muita gente se cadastrou, e milhões já receberam o auxílio, porém a triste realidade é que o número de pessoas precisando do auxílio é muito maior que o estimado inicialmente”, afirma a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, destacando que o problema das filas nas agências da Caixa tem a ver com as exigências colocadas pelo governo no decreto que regulamenta o cadastro e o pagamento do auxílio emergencial.
“O governo concentrou o cadastramento todo na Caixa. São milhões de pessoas e exigiu acesso a celular, internet ou baixar um aplicativo. Mas 17% dos brasileiros não têm celular, outros têm um celular que não tem memória e milhões não sabem usar os meios digitais. Isso e a falta de informações tem levado milhares de pessoas às agências”, explica a dirigente, destacando que houve, ainda, problemas de funcionamento da central de atendimento 111 e no aplicativo da Caixa, o que leva as pessoas às agências.
A Contraf cobra do governo a descentralização e da Caixa medidas de proteção aos clientes e empregados. “Conseguimos que a Caixa contratasse seguranças para organizar as filas e a manutenção da distância mínima entre os usuários. Eles também irão intensificar a campanha de esclarecimento à população. Porém o governo deveria ter feito parceria com as prefeituras para fazer o cadastro e não deixar centralizar todo atendimento na Caixa”, avalia Juvandia.
Sábado na fila
Em ofício enviado ao presidente da Caixa, Pedro Guimarães, na quinta-feira (30), a entidade protesta contra o trabalho aos sábados realizado pelos empregados e questiona a forma de remuneração sobre a jornada de trabalho nos sábados e feriados.
Fabiana Uehara Proscholdt, representante da Contraf-CUT nas negociações com o banco, garante que a abertura das agências aos sábados não resolve o problema das filas nas portas das unidades e ainda potencializa a aglomeração e o risco de contágio da covid-19. “Ao estabelecer o trabalho em feriados e aos sábados, a Caixa só traz mais desgastes à saúde física e mental dos empregados, que não poderão usufruir do devido tempo de descanso, principalmente quando eles estão na linha de frente do atendimento durante a pandemia.”
A Contraf-CUT cobra remuneração de 100% pelas horas trabalhadas no feriado de 21 de abril e nos sábados, 25 de abril e 2 de maio, como horas extras e seus reflexos para todos os empregados envolvidos, inclusive os gerentes gerais.
Para a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, os bancários da Caixa estão dando um verdadeiro exemplo de compromisso com a sociedade, mas ressalta que é preciso respeitar a jornada desses trabalhadores. “A descentralização do auxílio emergencial deveria ter sido feita com auxílio dos municípios e também dos demais bancos, públicos e privados”, reforça.
Agendamento e proteção
Desde o início da pandemia, os bancários reivindicam a ampliação de campanhas com informações claras para evitar que a população vá às agências sem necessidade. Também cobram da Caixa organização das filas, para a proteção de todos. “É preciso aumentar o número de seguranças desarmados para organizar as filas; ter proteções de acrílico nos caixas e os equipamentos de proteção individual (EPIs) para todos empregados, além do agendamento com cronograma de pagamento, respeitando a capacidade de cada agência”, afirma Ivone.
Ela ressalta que a Caixa é responsável somente pela operação do pagamento do auxílio emergencial. “Ou seja, todo o atraso está sendo feito pelo governo federal, que promove o desmonte nos bancos públicos, e dificulta ao máximo o pagamento do auxílio para a população, colocando todos em risco de contágio.”
Resultado do desmonte
O desmonte dos bancos públicos agravado nos últimos quatro anos é um problema que não afeta somente os trabalhadores, mas toda a população, lembra a presidenta do sindicato. “Isso tudo prejudica o financiamento da habitação, agricultura, das obras de infraestrutura, dos projetos de geração de renda e políticas sociais, entre outros”, explica. “No país, somente a Caixa reduziu em mais de 13 mil e o Banco do Brasil em mais de 16 mil o número de funcionários desde 2015.”
Na avaliação da dirigente sindical, os bancos deveriam investir mais na rede de agências e na contratação de bancários. “Cerca de 29% da população adulta no Brasil ainda não tem acesso a conta corrente. São aproximadamente 45 milhões de brasileiros”, conta Ivone, para quem as tarifas abusivas cobradas pelo setor talvez expliquem essa situação, além da ausência de agências bancárias em 2.338 municípios, ou 42% do total no país. “E esse número vem crescendo desde 2015, quando 35% dos municípios brasileiros não tinham agência bancária.”
Confira também
“É um bom momento para discutir inclusão bancária” – A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, Ivone Silva falou no programa especial da TVT, Como sair da pandemia?, sobre o decreto do governo Bolsonaro que incluiu agentes bancários como serviços essenciais e das filas na Caixa Econômica Federal
Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR
Fonte: CUT
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