O Comando dos Banrisulenses teve que endurecer com o Banrisul e chamar o Banco à responsabilidade quanto ao cumprimento dos protocolos da Covid-19, após um período de rompimento da mesa de negociações. Na reunião desta quarta-feira, 10 de março, com representantes do Banco, o tema foi prioridade e o movimento sindical não recuou em nenhum ponto do que está nos decretos estaduais que instituíram a bandeira preta no Rio Grande do Sul além de cobrar mais atenção com as agências de Santa Catarina onde o governo estadual não adotou medidas restritivas mesmo com o colapso no sistema de saúde.
O Banrisul havia rompido a mesa de negociações com uma série de assuntos pendentes, de forma unilateral e no pior momento da pandemia. O negociador contratado pelo Banco teve seu contrato encerrado e os demais representantes da mesa só retomaram o diálogo após correspondência da Fetrafi-RS ao presidente Cláudio Coutinho solicitando a agenda.
Durante a reunião, os sindicalistas levaram ao conhecimento do Banco diversas denúncias que comprovam o descumprimento dos protocolos estabelecidos pelo Decreto do RS. “Todos os dias estamos nos deparando com situações complicadíssimas, que vão desde os agendamentos até a falta de revezamento, principalmente nas agências pequenas. A telemedicina não está dando conta de atender os casos suspeitos. Há colegas esperando uma semana pelo resultado dos testes”, relatou a diretora de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora da Fetrafi-RS, Denise Falkenberg Corrêa.
Atendimento por encaixe
O também diretor da Fetrafi-RS e funcionário do Banrisul, Sérgio Hoff, destacou que superintendentes e gestores estão interpretando os comunicados passados pelo Banco de forma pessoal e equivocada. “O Banco precisa de protocolos rígidos, porque quando coloca nos comunicados que ‘fica a cargo da administração’, dá margem a interpretações”, apontou.
Hoff deu exemplos de agências que estão colocando clientes para dentro sem nenhum agendamento. “Tem agência atendendo por ‘encaixe’. O que está acontecendo é uma fila quilométrica de encaixes. O cliente marca para daqui 15 dias, mas se ele for amanhã para a frente do banco, ele é encaixado”, contou. “O Banco deveria conscientizar os clientes sobre como funcionam os canais de atendimento. Não estamos pedindo nada excepcional, apenas que o Banco desça uma ordem e ela seja cumprida.”
Malabarismos e cumprimento de metas
O presidente do SindBancários Porto Alegre, Luciano Fetzner, chamou a atenção para outros três pontos importantes: um deles é o excesso de empregados dentro de algumas agências, pois não são considerados os terceirizados. “Existem os malabarismos matemáticos, nos quais vemos agências operando com mais de 50% de funcionários”, pontuou.
Além disso, Fetzner citou novamente o atraso na resposta pela Telemedicina do Hospital Moinhos de Vento, conveniado com o Banrisul para testagem de Covid-19, e a cobrança por metas. “Tem gerente chamando colega para assinar ata de descumprimento de meta e com dupla punição, porque se não cumprir não recebe RV. Isso é um absurdo em plena pandemia.”
Testagem e EPIs ineficientes
A diretora de Formação da Fetrafi-RS e dirigente do Sindicato dos Bancários do Vale do Paranhana, Ana Maria Betim Furquim, reforçou que as dificuldades enfrentadas pelos colegas do interior com relação à Telemedicina são as mesmas da Capital. “Em algumas agências, o colega se afastou e depois de 6, 7 dias ainda não havia recebido o contato da Telemedicina. Vários colegas que testaram positivo encaminharam e-mails para o GAT e custaram a ter retorno”, relatou.
Ana também ressaltou que a nova cepa do coronavírus circulante no estado é mais transmissível que a anterior e que as máscaras fornecidas aos funcionários já não protegem mais como antes. “Estão nos pedindo máscaras melhores”, informou Ana Maria.
Revezamento é outra falha
Denise voltou a falar sobre a falha no revezamento de equipes, especialmente em agências pequenas de até seis empregados. “Muitas vezes os colegas nem moram na mesma cidade da agência, por ser um município pequeno, e precisa se deslocar de ônibus ou de carona. Tudo que não pode. Os superintendentes dizem que a limitação de 50% não vale para essas agências, mas ela vale, porque é universal”, frisou.
Para o diretor da Fetrafi-RS Fábio Soares, o presidente do Banrisul precisa exercer papel de liderança e falar diretamente para seus funcionários e funcionárias sobre a importância de seguir os protocolos e reduzir a contaminação. “As pessoas precisam de um processo de educação repetitivo. O Banrisul tem que assumir sua importância histórica neste momento.”
Colapso em Santa Catarina
Em Santa Catarina, a situação também é preocupante. Segundo o presidente do Sintrafi de Florianópolis e representante da Fetrafi-SC, Cleberson Pacheco Eichholz, por atuar no Sul do país, a situação do Banrisul é a pior entre todos os bancos no momento, pois dados estatísticos comprovam que a região vive o auge da pandemia.
“Santa Catarina é um dos estados com maior número de infecções por milhão de habitantes e é a quarta unidade da federação em número de casos. O estado só não é recordista de mortes porque detém um dos melhores serviços de atendimento em saúde com uma das melhores médias de UTIs por habitantes do país. Porém, nos últimos dias, os casos graves vêm crescendo muito e estamos sem leitos disponíveis de UTI”, explicou Eichholz.
“Desta forma, em nome da Fetrafi-SC, faço um apelo para que o Banrisul estenda as medidas de prevenção adotadas no RS ao estado vizinho. Temos um acordo de teletrabalho que foi aprovado pelos banrisulenses. Portanto, precisamos que mais colegas sejam colocados em teletrabalho para diminuir o número de pessoas nas ruas”, apelou o dirigente, informando que só na base de Florianópolis entre empregados, estagiários e terceirizados são 100 trabalhadores atuando nas unidades do Banrisul. Destes, 27 já tiveram Covid-19, sendo que hoje cinco são casos ativos, fato que ainda não havia ocorrido desde o início da pandemia.
Posicionamento do Banco
Os representantes do Banrisul ouviram todas as denúncias e solicitaram mais detalhes a respeito. Também informaram que toda segunda-feira o Banco encaminha um relatório de quantitativo de pessoas que podem trabalhar dentro das agências, devidamente equalizado e de acordo com os decretos estaduais. Por isso, os casos de descumprimento serão pontualmente apurados e punidos.
Entretanto, o Banco alega que em agências menores não há como fazer revezamento e que há dificuldades de cumprimento da Legislação até mesmo com relação às férias.
Os representantes do Banrisul informaram, ainda, que devem mudar o protocolo de atendimento aos casos suspeitos para buscar meios alternativos de acelerar a testagem. E que serão tomadas providências a respeito dos agendamentos.
O Banco admitiu que os protocolos de prevenção à Covid-19 requerem uma revisão neste momento de agravamento da pandemia e que vai seguir as orientações dos órgãos de saúde quanto a substituição dos Equipamentos de Proteção Individual caso necessário.
Uma nova reunião será agendada para a semana que vem.
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