No Brasil, 39,8% de mulheres negras são submetidas a condições precárias de trabalho. Nos bancos, uma mulher negra recebe cerca de 26% menos do que um homem branco

Desde 1992, o dia 25 de julho se transformou em um marco internacional de luta e de resistência da mulher negra. A data foi criada no primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, na cidade de Santo Domingos, na República Dominicana. Com o objetivo de dar visibilidade às lutas das mulheres negras contra o racismo, o sexismo e a discriminação de classe, mulheres de todo o Brasil, celebram a data para fortalecer a resistência contra retrocessos e violência de gênero.
A Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, neste ano terá como tema: “Sem violência. Sem racismo. Sem discriminação. Sem fome. Com dignidade, educação, trabalho, aposentadoria e saúde.”
Para o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir Costa de Aguiar, os temas abordados relacionam com a atual conjuntura política e social que os brasileiros estão vivenciando. “A postura fascista desse governo tem aumentado a crise social. O Brasil voltou a figurar no mapa da fome, cortes de gastos nas universidades, perseguição aos reitores, desemprego chegando ao patamar de 14 milhões de desempregados, 5 milhões de desalentados e mais de 30 milhões de pessoas na informalidade. Esses números assustam”, ressaltou Almir.
Segundo o secretário, diante dos números alarmantes, é preciso lutar contra todos os retrocessos em nosso país, entre eles está a Reforma da Previdência, que também causará enormes prejuízos aos cidadãos brasileiros. “A aposentadoria deixa de ser um sonho, e a luta será pela sobrevivência, pois sem emprego, saúde, salário digno e a dificuldade para se aposentar, tudo fica ainda mais difícil”, explicou.
“Na atual conjuntura, é importante resistir para criarmos as condições necessárias para que o atual presidente não se reeleja, e assim, lutar para resgatar as políticas afirmativas e sociais que tiraram mais de 40 milhões de pessoas da extrema pobreza e inserir cada vez mais negros e negras nas universidades e com mais empregos”, disse Almir.
Para ele este dia 25 de julho é uma data marcante. “O povo negro está lutando com mais força contra essa política discriminatória, em especial as mulheres negras, que lutam contra o preconceito, por direitos iguais e contra a violência. Chega de feminicídio, chega de discriminação, por esse motivo, todos e todas devemos lutar por uma sociedade mais justa”, concluiu.

Brasil

No Brasil, quando analisados fatores como, por exemplo, taxa de homicídios, inclusão no mercado de trabalho, disparidade salarial, condições de trabalho e desemprego, as mulheres negras encontram-se em uma das posições mais vulneráveis da nossa sociedade. De acordo com o estudo Atlas da Violência 2018, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a taxa de homicídios de mulheres negras ficou em 5,3 a cada 100 mil habitantes. Entre mulheres não negras, esse índice cai para 3,1 a cada 100 mil habitantes, uma diferença de 71%.
Outros dados do Ipea revelam que mulheres negras estão 50% mais suscetíveis ao desemprego do que outros grupos. Segundo o Instituto, enquanto o desemprego entre mulheres negras subiu 80% em relação ao período anterior à crise econômica, entre homens brancos o aumento foi de 4,6 pontos percentuais – entre homens negros, houve crescimento de 7 pontos percentuais.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 39,8% de mulheres negras compõem o grupo submetido a condições precárias de trabalho – homens negros abrangem 31,6%; mulheres brancas, 26,9%; e homens brancos, 20,6% do total.

Nos bancos

O fato de ser uma mulher negra também coloca as trabalhadoras do setor bancário em posição de desvantagem frente aos demais trabalhadores e trabalhadoras. Analisando a média salarial, uma bancária negra ganha em média 26% menos do que um bancário branco.
Mesmo com mais anos de escolaridade, representando praticamente metade da categoria bancária (48,3%) e sendo a maioria no Sudeste (51,9%), as mulheres enfrentam maiores barreiras para ascender na carreira no setor financeiro.

Novo Censo da Diversidade

Com o objetivo de traçar um perfil da categoria bancária e fazer com que os agentes da diversidade promovam reflexões e debates capazes de transformar o quadro de desigualdade de gênero e racial no setor bancário e na sociedade, está sendo realizado o Censo da Diversidade Bancária, uma conquista dos bancários na Campanha Nacional de 2018.
A proposta foi apresentada pelos trabalhadores à Fenaban (federação dos bancos) na mesa de igualdade de oportunidades e já começou a ser implementada com a finalidade de embasar políticas de inclusão, de combate à discriminação e de promoção da igualdade de oportunidades no setor bancário.
Lançada no site da Febraban na segunda-feira 15, e disponível também no site da Contraf, a campanha se prolongará até outubro, quando também se encerrará a fase de questionário do Censo, que iniciará no final de agosto. Os dados serão tabulados e analisados entre novembro e janeiro, e os resultados serão divulgados em fevereiro de 2020. O censo deste ano vai além da coleta de dados: também será realizada uma campanha de sensibilização da categoria para o tema, que inclui a formação de agentes da diversidade nas agências e departamentos.
Fonte: Contraf-CUT
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