Boa parte da categoria bancária se mostra receptiva ao chamado home office, mas a prática deve ser adotada com atenção aos efeitos sobre a saúde e às condições de trabalho. As conclusões constam de estudo elaborado pelo Dieese e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
O home office no setor bancário, também chamado de ‘teletrabalho’, foi um dos principais temas da recente campanha salarial desses trabalhadores. O assunto se consolidou e deverá fazer da agenda permanente de negociação.
“Percebeu-se que o home office – tão necessário para a proteção da saúde dos(as) trabalhadores(as) durante a pandemia – cria novas demandas e dificuldades: inadequação do ambiente da residência para a realização do trabalho, falta de equipamentos e mobiliário adequados, surgimento de novos problemas de saúde, sensação de isolamento, elevação de custos residenciais, falta de controle da extensão da jornada de trabalho, entre outros”, listam as entidades no estudo.
Quase 11 mil bancários (10.939) receberam questionários. Destes, 8.560 realizavam ou já haviam passado pelo home office.
Regime misto
Dos 10.939 trabalhadores, 21,4% eram do Banco do Brasil e 18,7%, da Caixa Econômica Federal. No setor privado, 18,8% eram funcionários do Bradesco, 17,6% do Itaú e 10,6%, do Santander.
Outros 12,9% dividem-se entre várias instituições, como Banrisul (Rio Grande do Sul), Banese (Sergipe), BRB (Brasília), Basa (Amazônia), BNB (Nordeste) e Banestes (Espírito Santo).
A pesquisa sobre home office no setor bancário constatou que existe “boa aceitação do novo regime de trabalho” entre os trabalhadores. Dos que responderam ao questionário, 27,7% disseram que gostariam de permanecer em home office diariamente, inclusive depois da pandemia. Outros 42% responderam preferir um sistema misto, incluindo trabalho presencial. E 26,5% querem trabalhar apenas presencialmente.
Adoecimento e sofrimento mental
Apesar da aceitação, o home office no setor bancário “já traz sinais de adoecimento na categoria bancária, com intensificação de sintomas e criação de novas formas de sofrimento”, aponta o estudo. Os responsáveis destacam, por exemplo, o crescimento da parcela de empregados que passou a ter “medo de ser esquecido(a), de perder oportunidades ou ser dispensado(a)”. Esse receio subiu de 2%, no regime presencial, para 27% no teletrabalho, com predominância entre funcionários de bancos privados.
Segundo o estudo, a preocupação constante com o trabalho foi o problema mais destacado: mais da metade (55,6%) disseram passar por isso nas duas situações. Enquanto 5,9% sentiam apenas no trabalho presencial, 11,4% passaram a ter essa preocupação após a adoção do home office.
Equipamento inadequado
Além da questão mental, cresceu também o volume de problemas físicos, como dores musculares (costas, região lombar e pescoço). Para 31,4%, essas dores já existiam e continuaram, mas para 24,9% surgiram depois do teletrabalho. Situação diretamente ligada, aponta a pesquisa, “às condições das instalações nas residências, como o uso de mesas e cadeiras incompatíveis com o trabalho e falta de equipamentos de ergonomia”.
Um terço dos pesquisados afirmou que o banco não se responsabilizou pelo fornecimento de equipamento ou móvel. Também foram relatadas dores nas articulações (pulsos e ombros) e dores/formigamentos em mãos, braços e ombros.
“Com o isolamento obrigatório, famílias inteiras permaneceram em casa, com crianças sem aulas e, muitas vezes, mais de uma pessoa trabalhando em home office. Com isso, a dificuldade de concentração foi outro problema a ganhar destaque: 20% dos(as) respondentes apontaram que essa dificuldade surgiu depois da adoção do home office”, aponta ainda a pesquisa.
O levantamento relaciona outras situações relacionadas a estresse: “cansaço e fadiga constantes, ansiedade, dificuldade de dormir (inclusive nos finais de semana), medo de ‘estourar’ (‘perder a cabeça’); vontade de chorar sem motivo aparente; dores de estômago (gastrite nervosa); e crises de dor de cabeça”.
Gasto doméstico cresce
Assim, concluem os responsáveis pelo estudo, é possível afirmar que o home office teve impacto na saúde dos bancários, do ponto de vista físico e mental. Efeitos constatados em apenas cinco meses. O que permite supor que, a persistirem essas condições, o quadro tende a se agravar.
Em relação à jornada, para 58,9% o período trabalhado não mudou. Já 13,6% disseram que aumentou muito e 22%, que aumentou um pouco. Outros 4,2% responderam que diminuiu um pouco e 0,7%, que diminuiu muito.
Na questão da renda, “não houve compressão direta”, segundo a pesquisa. “O setor, exceto alguns bancos de pequeno e médio porte, não aplicou a prática de corte de salários ou benefícios, tampouco de suspensão de contratos, durante a pandemia.” Mas enquanto as empresas reduziram de forma “vultosa” suas despesas administrativas – os cinco principais bancos economizaram pelo menos R$ 276 milhões no primeiro semestre –, o trabalhador teve aumento de gastos com energia, gás internet e alimentação. Acordo específico com o Bradesco em São Paulo, por exemplo, prevê ajuda de custo para gastos adicionais.
Confira aqui a íntegra do estudo.
Fonte: CUT-RS, com Rede Brasil Atual – RBA
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